Projeto de Lei 518/09, ou “Ficha Limpa” sofrerá alterações antes de ser votado na Câmara dos Deputados. O texto original previa que candidatos que respondem a processos em qualquer instância na Justiça estariam inelegíveis. “Do jeito como foi apresentado, [o projeto] teria dificuldade em ser aprovado. Com o encaminhamento que está sendo dado, será necessário ter a confirmação [da condenação do réu] por parte de um Tribunal”, de acordo com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante.
O texto original poderia representar a inelegibilidade de parte dos atuais parlamentares. A mudança significa que se a ação não tiver sido decidida por um colegiado, seja do Tribunal Eleitoral Regional, do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal de Justiça, o candidato poderá concorrer e assumir o cargo, caso ganhe a disputa. “É uma questão de segurança que a gente tenha a decisão do colegiado”, defende Cavalcanti.
A iniciativa da campanha "Ficha Limpa" é do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e conta com o apoio de mais de 30 organizações não-governamentais, entre elas a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil. A CNBB concorda com essa solução, segundo Daniel Seidel, secretário-executivo da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, órgão vinculado à Confederação. “Há consenso sobre a instância colegiada, mas continuamos insistindo para que a lei possa valer em primeira instância para alguns crimes e para os que tenham foro privilegiado”, afirma. O projeto original teve de ser modificado porque os deputados “não aceitam de nenhum modo a primeira instância”.
O deputado Índio da Costa (DEM), relator do projeto, marcou para 17 de março a entrega do novo texto, que deve ser votado até o final de março, ao presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB). “Crimes ligados à conduta moral e ética e dolo em relação ao serviço público, como enriquecimento ilícito e desmatamento, devem permanecer com veto em primeira instância. Mas a minha preocupação é não transformar o projeto em um exagero; é que a gente consiga aprovar”, diz o relator. Para Índio da Costa, se a Justiça funcionasse com mais agilidade ou se não houvesse a imunidade parlamentar, “não precisaríamos fazer esse tipo de lei”.
Mesmo que a lei seja aprovada na Câmara e no Senado e sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Daniel Sidel e Índio da Costa acreditam que alguns deputados irão questionar a constitucionalidade da lei junto ao Supremo Tribunal Federal. “Na consulta que fizemos a Juristas, não há impedimento algum porque se trata de acrescentar e objetivar critérios de elegibilidade já previstos na Constituição brasileira”, diz Seidel. Caberá ao STF definir quando a medida será introduzida na legislação eleitoral. Isto é, para valer nas eleições de 2010, o “Ficha Limpa” deverá ganhar a batalha na Câmara, no Senado, ser sancionada por Lula antes das convenções dos partidos e ter sua Constitucionalidade aprovada pelo STF.
Desde que foi apresentado na Câmara, em 29 de setembro de 2009, o “Ficha Limpa” recebeu cinco pedidos de priorização para votação feitos por deputados do PT, PDT, Psol e DEM. Parlamentares do PSDB e PMDB também declararam apoio. A campanha suprapartidária conta, ainda, com o aporte de um abaixo-assinado de 1,5 milhão de eleitores. “Se a sociedade dormir, é possível que o projeto não seja aprovado. Por isso, é importante que a sociedade exija a votação aberta e que acompanhe o projeto até a sansão do presidente”, afirma o relator.
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