Caindo as fichas
Carlos Heitor Cony
RIO DE JANEIRO - Não dá para entender: uma coisa tão simples (e tão necessária) como a folha corrida, para se obter um emprego ou uma missão, ainda está sendo discutida em vários níveis, na política e no âmbito da Justiça.
Descobriu-se o que mais ou menos todos sabiam: são inúmeros os cidadãos com contas a prestar, inclusive na polícia, que se elegem para os cargos públicos. Há nas Assembleias Legislativas dezenas de deputados que não conseguiriam emprego nem para zelador de prédio residencial, uma vez que os condôminos e o síndico exigem a folha corrida dos candidatos à vaga.
É evidente que no setor político muitos processos e ações judiciais são macetados pelos interesses locais e pessoais da própria política, na base de acusações muitas vezes sem provas. Mas são exceções. No geral, quem tem folha suja fez por onde, em grau que nem sempre se pode precisar. Mas onde há fumaça há fogo.
A morosidade da Justiça, em si, é também responsável pelo esclarecimento a que os eleitores têm direito. Pode parecer uma truculência legal, mas quem está com ação "sub judice" pode perfeitamente esperar outra oportunidade para tentar a vida pública. Por melhores que sejam suas intenções e qualidades, sempre ficará aquilo que o povo chama de "rabo preso".
É impressionante o número de escândalos que, ao explodirem, revelam que os responsáveis são figuras manjadas das delegacias e dos foros espalhados por todo o país. Crimes de toda espécie, inclusive uma grande margem de crimes comuns, que nada têm a ver com o processo político.
Uma candidatura, seja para que cargo for, deve ser o início de uma escalada para instalar a transparência em nossa vida pública. E quem não deve nada tem a temer.
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