16/05/2010 - 05h50
Entidades querem aumentar pressão para obter  logo a aprovação dos senadores, a tempo de transformar novas regras de  inelegibilidade em lei já para as eleições de 2010. Impossível não é,  mas também não será fácil
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| Para valer em 2010, projeto ficha limpa precisa ser aprovado no Senado, ser sancionado antes do dia 10 e passar pelo crivo da Justiça | 
Renata Camargo e Sylvio Costa
Visto  a princípio com ceticismo, o projeto ficha limpa saiu da Câmara dos  Deputados na semana passada como um sinal de alento para aqueles que  consideram possível deter o banditismo que grassa, não é de hoje, na  política brasileira. Para se transformar em lei, e – mais ainda – ter  validade já nas eleições deste ano, será preciso percorrer um duro  caminho.
A primeira batalha está marcada para esta quarta-feira,  19, quando a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado deve  iniciar a discussão da matéria. Um dos senadores comprometidos com a  defesa do projeto, o presidente da CCJ, Demóstenes Torres (DEM-GO)  adotou uma atitude preventiva. Avocou para si a relatoria, com o  objetivo de votar o projeto na mesma quarta-feira, sem nenhuma emenda em  relação ao texto aprovado pelos deputados federais.
Manter a  redação dada pelos deputados é uma exigência básica para tornar real o  sonho de colocar em vigor imediatamente regras mais restritivas para o  registro de candidaturas. Qualquer mudança tornaria obrigatória uma nova  votação do projeto na Câmara dos Deputados. Ou seja, fecharia o caminho  para que ele fosse sancionado pelo presidente da República e publicado  antes de 10 de junho, prazo em que os partidos começarão a realizar as  convenções nas quais definirão seus candidatos.
Com o projeto,  fica proibido que um político condenado por órgão colegiado da Justiça  se candidate (hoje isso só ocorre após esgotadas todas as possibilidades  de recurso, isto é, quando “a sentença transita em julgado”),  ampliam-se os crimes passíveis de tornar políticos inelegíveis,  impede-se a candidatura de quem renunciou a mandato eletivo para  preservar direitos políticos, e são estabelecidos critérios que dotarão a  Justiça eleitoral de novos instrumentos para combater a corrupção e os  abusos por parte de candidatos ou de ocupantes de cargos eletivos.
Se  na Câmara os inimigos do ficha limpa, encabeçados pelo deputado Eduardo  Cunha (PMDB-RJ), privilegiaram as manobras de bastidores para tentar  detonar a proposta, no Senado, o primeiro adversário de peso do projeto  se apresenta às claras. Quem? Nada menos que o líder do governo, senador  Romero  Jucá (PMDB-RR), que disse com todas as letras que não vê o assunto como  prioridade.
Base do governo dividida
Nesse tema, porém, Jucá – um dos senadores com pendências judiciais  em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF) – não fala por toda a  base governista, que está dividida em relação ao assunto. Mal o projeto  chegou no Senado, na última quarta-feira, Eduardo Suplicy (PT-SP)  começou a recolher assinaturas para pedir a votação do ficha limpa em  regime de urgência. Vários parlamentares de partidos da base governista e  da oposição têm aderido à ideia.
No PMDB de Jucá, o senador  Pedro Simon (RS) destaca-se entre os mais veementes defensores da  aprovação imediata e sem emendas do projeto e o mais influente  parlamentar do partido, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP),  esboçou um gesto favorável à iniciativa. Ao receber representantes da  sociedade e deputados empenhados na aprovação do ficha limpa, Sarney  prometeu procurar os líderes partidários para colocar o assunto em  regime de urgência.
Se o pedido de urgência for aprovado, a  matéria poderá seguir direto para votação em plenário, sem a necessidade  de ser apreciada pelas comissões. Mas mesmo sob esse regime, a situação  do projeto ficha limpa esbarra em dois obstáculos. O primeiro são as  quatro medidas provisórias que trancam a pauta do plenário, sendo uma  delas a MP que garante reajuste aos aposentados. O segundo, os quatro  projetos do pré-sal, que já estão em regime de urgência.
De  acordo com a Secretaria Geral da Mesa no Senado, não há como votar o  ficha limpa antes das medidas provisórias e uma possível apreciação  antes das propostas do pré-sal só será possível se o presidente da  República retirasse a urgência desses projetos. Nem as MPs nem as  matérias do pré-sal têm acordo para serem votadas. E, segundo a  liderança do governo no Senado, até o momento, não há nenhuma  sinalização no sentido de retirar a urgência.
“São grandes  obstáculos, mas quando se tem vontade política, se promovem os  entendimentos necessários e se apressam os processos de tramitação no  Congresso. Dos líderes, o único que mostrou resistência foi o Jucá”, diz  o líder do Psol, senador José Nery (PA). “O Senado tem que entender a  expectativa que a sociedade tem nesse projeto. Vindo o Senado de duas  crises, é a chance que temos de dar uma resposta à sociedade”.
Mobilização  social
Enquanto isso, as entidades responsáveis pela  apresentação da proposta – que chegou ao Senado após o recolhimento de  mais de 1,3 milhão de assinaturas – se preparam para reforçar as  estratégias de mobilização. A intenção é intensificar o corpo-a-corpo  com os senadores e lotar as caixas de mensagens e de recado nos  gabinetes para pedir agilidade na votação do projeto.
Assim como  foi feito com os deputados na Câmara, o Movimento de Combate à Corrupção  Eleitoral (MCCE) http://mcce.org.br/,  em parceria com a ONG Avaaz http://www.avaaz.org/po/,  pretende mostrar aos senadores que o projeto ficha limpa é prioridade  para a sociedade. Segundo o coordenador do MCCE, juiz Márlon Reis, será  feita uma nova chamada de mobilização nos próximos dias.
“A  Câmara fez a parte dela. Se o Senado não permitir que passe o projeto, o  ônus vai recair sobre os senadores. E será o pior de todos os ônus: nós  levaremos esse resultado para as campanhas eleitorais”, afirma Márlon.  Nas próximas eleições, dois terços das cadeiras do Senado serão  renovados.
A coordenadora de campanhas da Avaaz, Graziela Tanaka,  responsável pela mobilização via internet, avisa que, se o Senado  demonstrar que não tem pressa para aprovar a proposta, será logo  deflagrada uma chuva de e-mails e telefonemas para os senadores.
“Sem  dúvida, os deputados foram sensíveis à pressão popular. A gente  acredita que os senadores não têm tantos motivos pessoais para serem  contra o ficha limpa. Nossa expectativa era que seria mais difícil  passar na Câmara e que no Senado passaria mais fácil”, observa Graziela.
Jovita  José Rosa, diretora do MCCE, acrescenta: “O Brasil inteiro participou. A  sociedade está ansiosa por essa lei. Queremos que o projeto seja  incluído logo na pauta do plenário e que fique o menos possível no  Senado. Queremos agilizar a votação para o ficha limpa valer para as  próximas eleições.”
Data de validade
Esse  é outro obstáculo a ser enfrentado, se o projeto de fato se transformar  em lei, como acreditam os integrantes das 44 entidades representativas  da sociedade civil que compõem o MCCE, movimento impulsionado  principalmente pela igreja católica.
A verdade é que muitos  deputados federais, mesmo não simpatizando muito com a ideia, terminaram  concordando em aprovar o projeto ficha limpa na presunção de que as  normas votadas só entrariam em vigor a partir das eleições de 2012. Esse  é, com efeito, o entendimento de alguns juristas, para os quais  qualquer alteração na legislação eleitoral precisa de um prazo mínimo de  um ano para passar a valer.
Mas não é o que pensa o coordenador  do MCCE, Márlon Reis, um experiente juiz eleitoral que também preside a  Associação Brasileira dos Magistrados, Procuradores e Promotores  Eleitorais (Abramppe). Conforme o seu entendimento, o princípio da  anterioridade (previsto pela Constituição) não cabe para normas de  inegebilidade. Tanto assim, argumenta ele, que a própria Lei de  Inelegibilidade atual, publicada em maio de 1990, valeu para as eleições  daquele mesmo ano.
Seja como for, é certo que a definição final  sobre o tema caberá à Justiça. Por isso, muitos partidos estão se  antecipando e já anunciaram que não permitirão o lançamento de  candidatura de quem não se enquadrar nas regras do projeto ficha limpa.  Até agora, três agremiações assumiram compromisso público nesse sentido:  DEM, PSDB e PT.
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Tendo o Projeto "Ficha Limpa" como pano de fundo, podemos até não saber ainda em quem votar, mas certamente já sabemos em quem não votar.
ResponderExcluirAcho que nessas eleições o povo vai pensar assim.
Apesar do "Ficha Limpa" ser um projeto de lei, ele se tornou mais do isto. O "Ficha Limpa" se tornou uma espécie de diretiva de conduta pessoal, que juntamente com a Internet, que é uma catalizadora de ações, temos os ingredientes necessários para uma revolução política-cultural.