sexta-feira, 21 de maio de 2010

Do Brasil de Fato | Criada por pressão popular, Ficha Limpa, sozinha, não garante ética


Lei aprovada no início do mês recebeu 2 milhões de assinaturas em seu favor, mas significa apenas um passo para a transformação ética na política

20/05/2010

Eduardo Sales de Lima

da Redação

A aprovação do projeto de lei Ficha Limpa na Câmara dos Deputados, em 4 de maio, foi considerada uma vitória popular, já que o texto original, proposto pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, recebeu mais de dois milhões de assinaturas, coletadas por entidades como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

No entanto, especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato, embora ressaltem a importância da norma, afirmam que ela, isoladamente, não garantirá a ética na política institucional brasileira.

A proposta, prevista para ser votada pelo Senado no dia 19, após o fechamento desta edição, impede a candidatura de pessoas condenadas por instâncias colegiadas da Justiça. Entre os crimes que poderão impedir a candidatura de um indivíduo, incluem-se a corrupção, abuso de poder econômico, homicídio, crimes contra o meio ambiente e a saúde pública, prática de trabalho escravo e tráfico de drogas.


Além disso, a lei determina um período de oito anos durante o qual o candidato ficará sem poder se candidatar. Atualmente, a Lei Complementar 64/90 estabelece casos de inelegibilidade fixados com prazos que variam de três a oito anos. O projeto também pune os políticos que renunciarem ao mandato para evitar abertura do processo de cassação. Aquele que o fizer se tornará inelegível nas eleições seguintes.


“Essa lei será eficaz? Eu não sei. Eu não posso achar nada senão a partir do testemunho que vier da aplicação”, pondera Cláudio Weber Abramo, diretor-executivo da ONG Transparência Brasil. Ele acredita que qualquer legislação sempre frustrará os proponentes “porque será menos efetiva do que realmente esperamos”.


Problema “individual”


Cláudio vai além e toca no ponto em que os partidos pouco, ou quase nada, discutem. “O problema continuará independentemente da existência da lei. Os partidos políticos brasileiros não têm preocupação com a qualidade dos indivíduos que eles abrigam. Esse é um problema fundamental”, critica.


Para o filósofo e membro do colegiado do Instituto de Estudos Sócio-Econômicos (Inesc), José Antônio Moroni, o fato da lei Ficha Limpa ter sido constituída a partir de iniciativas populares e de reunir mais de 2 milhões de assinaturas a seu favor fez a diferença. “Vários projetos apresentados por parlamentares iam mais ou menos nessa direção e estavam há anos paralisados, mas foi necessária essa mobilização toda”, afirma. Moroni enfatiza que essa situação mostra o quanto o Parlamento brasileiro está desvinculado dos desejos da população.


Por esse e outros motivos, o membro do Inesc acredita que faltou, dentro da estratégia da função pedagógica da participação popular, insistir à sociedade que, no atual sistema político brasileiro, os partidos políticos aceitam pessoas sem critérios algum e, pior, o fato de ser político gera privilégios e proteção contra punições da Justiça. “Se as pessoas que estavam com problemas na Justiça se utilizam dos mandatos para ficar imunes, pode-se chegar à conclusão que a participação na política institucional no Brasil serve para construção de privilégios”, critica.


Reforma


Projetos como o Ficha Limpa precisam ser trabalhados dentro do contexto de uma reforma política no Brasil. É o que pensa Moroni. Ele acredita que o Ficha Limpa somente apontará uma direção, mas, isoladamente, não é um instrumento capaz de mudar a forma de fazer política no Brasil.


Para tal, formaria mais conteúdo à própria sociedade. “Como a gente não tem força política de forçar uma reforma política radical, a estratégia é fazer alguns ajustes”, conclui.


Para Cândido Grzybowski, diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), a aprovação do Ficha Limpa mais que rendeu uma lição política: “mostrou que dá trabalho, mas que temos possibilidade”.

Fonte: http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/criada-por-pressao-popular-ficha-limpa-sozinha-nao-garante-etica
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Um comentário:

  1. OS COMENTÁRIOS SÃO VÁLIDOS, MAS, NÃO OS FIZERAM ANTES PORQUE? NÃO ADIANTE FALAR AGORA QUE A LEI PODERIA SER MELHOR. FOI O MÁXIMO DOS MAXIMOS QUE A SOCIEDADE CONSEGUIU. SE ALGUEM OUTRAS IDEIAS PARA MELHOR MAIS AINDA, É SÓ APRESENTAR, TERÁ APOIO DE TODOS OS FICHA LIMPA E LUTAR DURANTE 3 ANOS PARA A SUA APROVAÇÃO.

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