segunda-feira, 1 de março de 2010

Do Zero Hora - Intolerância à Corrupção

01 de março de 2010 | N° 16261

Por mais que políticos continuem abusando, desviando-se da ética – o escândalo do Distrito Federal é apenas o mais recente –, muita coisa mudou nos últimos anos, e para melhor, sob o ponto de vista dos eleitores. As transformações positivas no âmbito da sociedade vêm sendo inclusive quantificadas tanto por diferentes instituições de pesquisa quanto por organizações não governamentais preocupadas com o tema, como é o caso da Transparência Brasil. Ainda falta muito para que essa tendência atinja proporções de mudança cultural num país cuja história está associada a desvios. Os avanços, porém, já fazem com que alguns políticos em campanha se mostrem mais cautelosos em relação a certas práticas e comecem a temer seu impacto em eleições como as marcadas para outubro.

Exemplo marcante desta crescente intolerância à corrupção e da resistência dos parlamentares em tomar alguma atitude concreta para dificultá-la é a mobilização contra políticos condenados em primeira instância por crimes graves, como os praticados contra a vida e contra o patrimônio público. Projeto de iniciativa popular, conhecido como Ficha Limpa, foi entregue à Câmara em setembro do ano passado, respaldado por mais de 1,3 milhão de assinaturas. Se a intenção de vetar suas candidaturas fosse aprovada até junho deste ano na Câmara e no Senado, as novas regras já valeriam para as próximas eleições. Mesmo diante de uma manifestação tão expressiva, porém, o máximo que a Câmara admite é examinar o assunto neste mês, e a preo-cupação predominante é a de abrandar o texto.

Políticos aferrados a práticas eticamente condenáveis, comuns em décadas recentes, precisam se convencer de que os eleitores estão mudando com rapidez, rejeitando cada vez mais qualquer tipo de falcatrua. Certamente, ainda há brasileiros que veem em candidatos uma possibilidade de conseguir emprego, de facilitar o andamento de processos burocráticos ou mesmo de garantir alguma vantagem financeira ou um prato de comida em troca de voto. Cada vez mais, porém, a tolerância à corrupção vai se restringindo a um reduzido grupo, o que se reflete na eleição dos representantes e na avaliação de seu desempenho. De maneira geral, as pesquisas de opinião pública confirmam que os governantes com melhor avaliação dos eleitores são os percebidos como competentes, mas também como honestos. Simplesmente inaugurar obras e dar ênfase ao assistencialismo, portanto, já não significa sinal verde para quem costuma agir fora da lei e de padrões mínimos da ética.

Infelizmente, as sucessivas constatações de desvios por parte de políticos em campanha e de representantes já eleitos para o Executivo ou para o Legislativo passam a ideia de que essas práticas mantêm-se como tradição, o que é verdade em parte. Mas algo começa a mudar – e a crescente intolerância à corrupção pode se constituir no caminho para o país alcançar as raízes do problema, derrotando-o.

Fonte: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2823630.xml&template=3898.dwt&edition=14204&section=1011
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