quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Da Gazeta Mercantil - Custo da corrupção no Brasil alcança R$ 10 bilhões ao ano

Fonte: Jornal Gazeta Mercantil - 25/02/09

Custo da corrupção no Brasil alcança R$ 10 bilhões ao ano

Brasília, 25 de Fevereiro de 2009 - O Brasil aparece em pesquisa publicada este mês pela organização não governamental International Budget Partnership (IBP) como o país mais transparente da América Latina na aplicação do orçamento público.

Contudo, o dado perde o brilho quando confrontado com problemas variados, como a demora na reforma do código de processo penal ou o famigerado excesso de cargos comissionados no Executivo federal, e seus efeitos mais diretos no governo. Os dois fatores são citados por especialistas entre as causas para uma perda anual nos cofres públicos estimada em R$ 9,6 bilhões por conta da corrupção no país.

"A legislação processual penal brasileira é, para dizer pouco, retrógrada e ineficiente", critica o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, que comanda o órgão responsável pela fiscalização de fraudes no uso do dinheiro público e pelo desenvolvimento de mecanismos de prevenção à corrupção e ao desvio de dinheiro público, obtido à custa de cobrança de uma carga tributária de quase 40% do Produto Interno Bruto (PIB).

O principal problema do código, diz o ministro da CGU, é o número elevado de brechas legais que abrem caminho para recursos por parte dos acusados e, por conta disso, para processos que se arrastam por anos a fio sem conclusão.

"É a presunção da inocência levada até as últimas consequências, um embaraço que foi legitimado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal. Quem tem acesso a um bom advogado vai ver seu processo se estender por 15, 20 ou mais anos. E todos sabemos que criminosos do colarinho branco sempre têm acesso aos melhores escritórios de advocacia", acentua Jorge Hage.

Propinas

O resultado é a elevada percepção de impunidade, que reduz investimentos e aumenta a corrupção no relacionamento entre entes privados e servidores públi-cos. Levantamento realizado em 2002 pela multinacional Kroll Associates,de gerenciamento de risco, e pela ong Transparência Brasil afirma que quase um terço das empresas brasileiras já recebeu pedidos de propina por funcionários públicos das mais diversas áreas em troca da liberação de alvarás ou licenciamentos.

"A cultura do brasileiro nessa relação entre público e privado ainda é muito contaminada", afirma o professor de Teoria da Corrupção no departamento de Ciências Políticas da UnB, Ricardo Caldas.

Ele inclui nesse arcabouço a questão do financiamento privado de campanhas eleitorais, fator que, para o professor, colabora em muito com a corrupção no Executivo e no Legislativo, em todas as esferas de governo (federal, estadual e municipal).

"E não adiantam paliativos, a imposição de um limite de gastos nas campanhas, por exemplo, acabou por criar um efeito contrário: sobrou dinheiro para um caixa dois usado amplamente na compra de votos", observa Ricardo.

Caldas, que cita a explosão de processos na Justiça Eleitoral contra governadores eleitos, como o que cassou o ex-governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), ameaça do mandato do governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), como exemplos dessa consequência.
"A compra de votos é um ato sutil de corrupção onde o político muitas vezes sequer aparece diante do eleitor. Ele se preserva e manda um cabo eleitoral.Uma reforma política ampla pode não ser a cura para esses problemas, mas ela é necessária como início de uma mudança nessa cultura", enfatiza o acadêmico da UnB.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Karla Correia)

Veja também entrevista com Claudio Weber Abramo, da Transparência Brasil: "Não é possível ser íntegro na miséria" - http://docs.google.com/Doc?id=dgx3c728_101grvxxzc6

Enviado por André Merli Ribeiro, de São Paulo, SP

2 comentários:

  1. Campanha Ficha Limpa é uma bobagem, é tapar uma buraco e abrir uma peneira, não merece o tempo que já foi gasto, me perdoem os que tanto tem lutado pela campanha. Com as brechas da lei e o sistema eleitoral corrupto que temos, nada impede de os políticos se corromperem e se abuletarem dos cofres da nação. Só uma reforma eleitoral, com voto em lista e financiamento público de campanha teríamos a possibilidade de diminuir a corrupção desenfreada dos políticos e dos corruptores, esses sim, de uma sanha incomensurável. Lutemos pela reforma política, essa merece a luta de todos os brasileiros. A sociedade organizada está adormecida, precisa se levantar, agir, espernear, gritar com esses parlamentares que não querem fazer a reforma porque querem continuar se locupletando do nosso dinheiro, do dinheiro dos contribuintes. Em 1946 foi assinado um Decreto-Lei instituindo o voto em lista préordenada, mas os políticos da época, como os de hoje, não quiseram de forma alguma a moralização da coisa pública e conseguiram a revogação em dezembro do mesmo ano. Eles não mudam e não se envergonham, só a sociedade pode mudar, com sua luta, esse sistema eleitoral corrupto que só serve aos marginais e envergonha a nação.

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  2. Prezado Erivaldo, a sua indignação é justa, nos tambem temos a mesma indgnação e exatamente por conta disso estamos tentando um mundo melhor, um Brasil melhor e isso se passa por coisas que alguns como vc pode entender que não tenha efeito. Já fizemos isso com a Lei 9840 em 1999 e já conseguimos cassar mais de 600 candidatos que compravam votos, entre eles, governadores, senadores, deputados federais, estaduais, prefeitos e vereadores. É uma Lei moralizadora, assim como pretende ser a ficha limpa, que visa impedir que aqueles que tenham condenações continuem sendo candidatos e eleitos. Mas nem por isso nos damos por satisfeitos e tambem lutamos pela reforma politica ampla e geral com participação popular, que mais exige uma reforma do estado do que só politica e eleitoral, assim lutamos com movimentos sociais por reformas que estão em debate mas que são pela sua complexidade mais dificeis. Voce pode verificar no site da www.reformapolitica.org.br . Abraços e se puder some esforços.
    Luciano Santos - MCCE

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